quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Entrevista - Oswaldo Haruo

“É preciso pensar nas futuras gerações e não apenas no ‘aqui e agora’”

Osvaldo Haruo Nakiri

Um mercado no qual “as tradições fazem a diferença”. Assim é a indústria de seguros japonesa, nas palavras do nissei Osvaldo Nakiri, analista de risco e integrante da equipe de colaboradores da Cadernos de Seguro. Além de assinar o artigo de capa desta edição, ele é o convidado da “Cadernos Entrevista” para contar um pouco mais sobre como funciona o seguro na terra de seus antepassados. E pelo que parece, toda a obediência, tolerância e consciência de preservação, tão presentes na cultura nipônica, refletem-se também no mercado de seguros local. Sempre detalhistas e precavidos, os habitantes da terra dos samurais, das gueixas e do origami também usam a sensibilidade e a inteligência ao trabalhar com seguros. Vide a forma que as viúvas japonesas encontraram para sobreviver no pós-guerra: a venda de seguros de vida. “As mulheres sabem expor melhor que os homens a utilidade/necessidade de um seguro de vida, até pela estabilidade e segurança econômica da família”, explica o analista. A grandiosidade dessa economia, que cresce a olhos vistos, também deve ser respeitada, afinal, são poucos os países que podem ostentar o fato de possuírem “cerca de 90% da população portadora de um seguro de vida e aproximadamente 99% da frota de automóveis segurada”, como afirma Nakiri. Para o Brasil, o status de maior colônia japonesa do mundo pode se traduzir em um aumento do market share das companhias nipônicas no país com a abertura do resseguro e, sem dúvida, na imensurável contribuição desse povo em termos de cultura e experiência na área de seguros. Neste primeiro centenário da imigração japonesa para o Brasil, Nakiri lembra que é preciso “pensar nas futuras gerações” e não apenas no “aqui e agora”, no lucro a qualquer custo. “Devemos esquecer um pouco o individualismo e lembrar mais do social”, frisa.



Cynthia Magnani

Como fica claro em seu artigo, o povo japonês é muito atento ao que existe de mais moderno, sem descuidar das tradições. Passado e futuro também andam juntos nas seguradoras japonesas?

Sim. Em seguradoras, como em outras empresas japonesas, as tradições fazem a diferença. Respeito à hierarquia, preocupação com o bem comum, obediência e lealdade à empresa. Do mesmo modo, a empresa cuida dos seus, embora nos últimos tempos tenha havido alguma mudança neste particular. Normalmente o japonês faz do local de trabalho sua segunda casa; alguns, até a primeira. Não é comum a troca freqüente de emprego na procura por ascensão profissional.

Ultimamente as seguradoras japonesas estão se lançando ao exterior. A Tokio Marine, por exemplo, adquiriu a Philadelphia Consolidated Holding por US$ 4,7 bilhões, após adquirir por US$ 881 milhões a Kiln, uma seguradora londrina. É uma questão de crescer ou morrer, pois no Japão os rendimentos dos investimentos estão ficando deficitários, por conta da ínfima taxa de juros paga pelo mercado, o que, em 2006, levou algumas seguradoras do ramo vida à falência.

Quais outras tradições influenciam o modo de fazer seguro no país?

Uma em particular surgiu no pós-guerra. Em função da morte de seus maridos, mulheres entraram no mercado para vender seguro de vida, por uma questão de necessidade e também por falta de experiência profissional. Coincidência ou não, as mulheres, por serem ao mesmo tempo donas-de-casa, sabem expor melhor que os homens a utilidade/necessidade de um seguro de vida, até pela estabilidade e segurança econômica da família. No Brasil, agora que se fala tanto em microsseguro, certamente a mesma estratégia poderia ser aplicada.

Quantas seguradoras japonesas operam no Brasil atualmente, e quais são as suas especialidades?

São três: Tokio Marine, Mitsui Sumitomo e Yasuda. Todas tradicionais do mercado japonês – a Yasuda, por exemplo, foi fundada em 1887 –, operando basicamente nas carteiras de automóvel, patrimoniais e vida.

O que essas empresas trazem, em termos de cultura nipônica, para os clientes brasileiros?

Controles rigorosos visando à melhoria constante na qualidade dos serviços prestados. Entre as três seguradoras citadas, aquela na qual se percebe uma maior influência brasileira, aparentemente, é na Tókio Marine.

O senhor acredita que, com a abertura do resseguro, mais companhias japonesas deverão vir para o Brasil?

Provavelmente não, pois as maiores já estão aqui instaladas. O que pode acontecer é ampliarem o seu market share. A Mitsui Sumitomo, por exemplo, recentemente fez um aporte importante de divisas. A Tokio Marine comprou parte dos negócios da Real Seguros, penetrando no mercado de seguros de pessoa física. A Yasuda certamente deve seguir essa tendência. Outra possibilidade futura seria a entrada das três seguradoras no mercado de resseguros brasileiro. Dependerá da evolução do mercado que, tudo indica, vai de vento em popa.

O que seus pais falavam sobre o Japão?

Minha mãe falava muito sobre lendas japonesas e nos assustava quando crianças. Como ela era de Kumamoto, da área rural, conhecia bem o assunto.
Contava que, no inverno, os pais esquentavam pedras no fogo e, segurando-as, as crianças iam para a escola através da neve.

Em caso de terremoto, a recomendação era para correr e se abrigar dentro do bambuzal, onde o emaranhado de raízes e caules protegia melhor em caso de fendas no solo. Dentro do bambuzal, na primavera, ainda era possível achar pontos onde a neve não havia derretido, fazendo a alegria das crianças.

As casas japonesas de madeira, como ainda hoje, não tinham necessariamente portas como aqui no Brasil, porque os ladrões (os poucos que pudessem existir), se pegos, eram rigorosamente punidos. Sendo de madeira, também eram mais flexíveis em caso de terremoto, e se desmoronassem eram mais leves, facilitando o socorro. O problema era o incêndio. Quando se alastrava, era o caos.

O que motivou a vinda deles para o Brasil?

Boa pergunta. Nunca fiz esse questionamento, e agora é tarde demais. Imagino que, como todo imigrante, vieram em busca de uma vida melhor, de melhores oportunidades. Senão, precisariam ser malucos para largarem tudo e virem para um país do outro lado do planeta, onde tudo, simplesmente tudo, era diferente do que conheciam. Além do mais, certamente houve uma propaganda governamental a favor. “Douraram um pouco a pílula”, o que não é estranho nem incomum.

O que o centenário da imigração japonesa significa para o senhor?

O centenário significa, de alguma forma, um retorno ao passado dos meus pais, uma oportunidade ímpar de conhecer um pouco mais as contribuições e influências dos japoneses e seus descendentes. É um fato importante, até para o próprio Japão, que enviou o seu príncipe para participar das comemorações. E isso não é comum.

Artigo - Análise de cenários no setor segurador

Determinísticos ou estocásticos

A importância da análise de cenários no setor segurador

Kurt Karl

Cenário é uma fotografia de um resultado futuro plausível. A análise de cenários facilita as decisões comerciais, levando em consideração os diversos potenciais de desdobramentos e possíveis acontecimentos futuros no ambiente de negócios. Ela é usada para estudar o resultado de acontecimentos com alto grau de incerteza e seus efeitos sobre a rentabilidade ou posição competitiva de uma organização.

Os cenários podem ser determinísticos ou estocásticos. Geralmente, uma análise baseada em cenários determinísticos leva em consideração apenas alguns cenários, que podem ser históricos ou hipotéticos. O cenário histórico reflete um evento significativo ocorrido no passado, como a crise da dívida russa, que foi uma recessão específica, ou a quebra do mercado acionário em 1987. O cenário hipotético reflete um evento significativo que é considerado plausível, mas que ainda não ocorreu. Cada um deles tem suas vantagens.

O cenário histórico tende a ser mais articulado e, como tal, exige menos informações e arbítrio gerencial. As limitações dos cenários históricos incluem sua inflexibilidade e a incapacidade de levar em conta novos desdobramentos nos mercados financeiro e segurador. Os cenários hipotéticos, por outro lado, podem ser adaptados ao perfil de risco de uma empresa, mas costumam requerer trabalho intensivo e exigem substancialmente mais discernimento. Geralmente, as empresas envolvem gerentes de negócios e especialistas, como economistas, na projeção de cenários hipotéticos. É preciso um cuidado especial para assegurar que o cenário reflita choques de magnitude plausível, bem como a correlação entre as diferentes variáveis.

Os cenários estocásticos são baseados em simulações – normalmente entre mil e um milhão – e são orientados pelos ajustes aos parâmetros e variáveis de entrada, com base em sua distribuição histórica e covariância. As mudanças em determinados fatores de risco – por exemplo, taxas de câmbio, juros e preço das ações – podem ser montadas com o uso de análise quantitativa, modelagem estocástica ou capacidade de julgamento. Esses fatores de risco podem ser aplicados a uma ou mais linhas de negócios, classes de ativos ou passivos; entretanto, pode ser necessária a sua agregação para reduzir a quantidade de componentes modelados.

Os cenários podem ser direcionados por eventos ou problemas decorrentes de uma carteira de linha de negócios ou riscos de uma companhia. Os cenários direcionados por eventos são baseados em eventos plausíveis e na maneira como eles poderiam afetar uma empresa. Muitas vezes, esses cenários são desenvolvidos por solicitação da alta administração, algumas vezes em resposta às últimas notícias, como queda na taxa de juros, volatilidade no mercado acionário ou grande evento catastrófico. Os cenários direcionados por carteira são orientados pelas vulnerabilidades da carteira detida por uma empresa. Os gerentes de risco trabalham em sentido contrário para formular cenários plausíveis em que essas vulnerabilidades sejam acentuadas. Por exemplo, uma seguradora do ramo vida com exposição elevada ao risco de mortalidade poderia desenvolver cenários envolvendo pandemias.

Embora na maioria das vezes sejam quantitativos, os cenários podem ser usados para desenvolver visões alternativas do futuro destinadas a estimular o raciocínio sobre qual seria a melhor reação de uma companhia a mudanças fundamentais no ambiente de negócios. Esses cenários, desenvolvidos por meio de um processo de entrevistas internas e externas, são qualitativos e descritivos.

A maioria das seguradoras usa a análise de cenários para desenvolvimento de estratégias e gerenciamento de riscos.

A análise de cenários é de particular importância para as seguradoras, já que a sobrevivência das empresas desse setor depende da capacidade de avaliar riscos e definir preços adequadamente. Para gerenciar a ampla gama de riscos que enfrentam – muitos dos quais inter-relacionados –, as seguradoras costumam desenvolver cenários para gerenciamento de riscos, decisões sobre subscrição e definição de preços, planejamento estratégico e gestão do capital. A análise de cenários possibilita às seguradoras o desenvolvimento de estratégias de atenuação e planos de contingência para tais eventos.

Os cenários são particularmente úteis para seguradoras que buscam aprimorar o gerenciamento do capital, o que, em última análise, melhora o retorno sobre o seu patrimônio líquido. As seguradoras podem usar cenários para determinar a adequação do capital e selecionar o programa de resseguros ideal em função dos riscos de subscrição e investimento que enfrentam. Por fim, as decisões de alocação de capital e de limitação de riscos podem ser determinadas por meio do uso de modelos. Isso pode incluir a alocação de capital por linha de negócios ou tipo de risco.

Kurt Karl
Economista-Chefe e Diretor de Análise Econômica & Consultoria da Swiss Re na América do Norte, Doutor pela Princeton University

domingo, 16 de agosto de 2009

Entrevista - Walter Polido

“O ponto comum é o gerenciamento de riscos”

Quando se pensa no conceito de desenvolvimento sustentável, o que podemos esperar, por exemplo, como resultado da união das áreas de seguro, meio ambiente e Direito? O consultor de seguros e resseguros Walter Polido não tem dúvida: “O ponto comum é o gerenciamento de riscos”. E para contribuir para o equilíbrio das relações entre essas três áreas, Polido promete mostrar serviço como presidente do recém-criado Grupo Nacional de Trabalho do Meio Ambiente da Associação Internacional de Direito do Seguro (AIDA-Brasil). Na pauta, a análise e discussão de temas como o impacto das mudanças climáticas no seguro brasileiro; os seguros ambientais no Brasil, Europa, Estados Unidos e Argentina; o Protocolo de Kyoto e as novas diretrizes para o mercado após a conferência COP15 da ONU, que ocorre em Copenhagen, na Dinamarca, em dezembro; e as indenizações e a recuperação de áreas atingidas por acidentes ambientais.

Em entrevista à Cadernos de Seguro, Polido avalia o mercado do seguro ambiental brasileiro (“Os frutos começam a florescer”), mostra-se contrário à sua obrigatoriedade (“Essa coerção legal não tem sido eficaz em outros países e não funcionaria no Brasil”), critica a criação de uma seguradora estatal (“Está na contramão dos modernos conceitos das administrações pública e privada”) e a atual contribuição do setor no estudo das mudanças climáticas (“O mercado precisa conhecer cientificamente o assunto. De fato e de concreto nada tem sido feito, e isso é assustador. Não há como ignorar o assunto”). Ele garante, ainda, que o novo Grupo de Trabalho da AIDA irá incrementar também a literatura especializada em seguro, meio ambiente e Direito, a partir dos assuntos estudados e pesquisados. “Não será um GT de seminários, apenas”, afirma.



Qual é o objetivo do Grupo Nacional de Trabalho do Meio Ambiente da AIDA?

Temos como meta a análise dos temas afetos ao meio ambiente e os contratos de seguros, passando por todas as questões que podem impactar a atividade seguradora. A AIDA tem como objeto principal o desenvolvimento do estudo do Direito do Seguro e do Resseguro, desde os anos 60, quando ela foi criada na França. Todas as disciplinas que podem impactar a atividade seguradora de modo geral passam pela atenção dos associados da AIDA, no mundo todo.

Como surgiu a ideia de criação do grupo e quais serão as suas ações?

A ideia surgiu a partir de alguns fatores: o fato do XIII Congresso Mundial da AIDA 2010, em Paris, que acontecerá em maio, ter como tema principal as mudanças climáticas – preparamos a participação do Brasil, respondendo o questionário-padrão que foi encaminhado pelo comitê organizador aos diversos países –; e o seminário promovido pela AIDA, em abril deste ano, sobre o tema de riscos ambientais, que despertou de vez a necessidade de ser constituído um Grupo Nacional de Trabalho, específico, em razão da complexidade dos temas.

O GNT-Meio Ambiente foi implantado em 26 de junho, na sede da AIDA em São Paulo, e tem como principais ações a discussão e a preparação de material literário sobre os seguintes temas iniciais: mudanças climáticas e o impacto na indústria de seguros brasileira; o estágio de desenvolvimento atual do mercado segurador brasileiro acerca dos seguros ambientais; o estágio de desenvolvimento atual do mercado europeu de seguros e resseguros acerca dos seguros ambientais, a partir da Diretiva 2004/35/CE; o estágio de desenvolvimento atual do mercado segurador norte-americano acerca dos seguros ambientais; o estágio de desenvolvimento acerca dos seguros ambientais na Argentina; os termos jurídicos adequados para uma apólice de seguros de riscos ambientais; Kyoto e pós-Kyoto – Copenhague –: diretivas e novos mecanismos que podem impactar a indústria de seguros; o comportamento do Judiciário nacional acerca do arbitramento de indenizações de fato e visando à recuperação de áreas atingidas por acidentes ambientais; Fundo Federal de Direitos Difusos (FFDD); Fundos Estaduais e Municipais – eficácia. TAC – Termo de Ajustamento de Conduta, instrumento eficaz na recuperação ambiental; a obrigatoriedade ou não dos seguros ambientais no Brasil em face do Direito comparado; e outros temas a serem eleitos.

Quais os pontos em comum entre seguro, meio ambiente e desenvolvimento sustentável e como o Direito pode contribuir para o equilíbrio dessas relações?

O ponto comum é o gerenciamento de riscos, na busca de melhores resultados. Na linha do desenvolvimento sustentável, a Ecoeficiência se mostra de forma imperiosa, diante do tripé índices econômicos + sociais + ambientais. A empresa, de forma geral, além daquela ideia inicial que existia da sua importância como geradora de empregos e de tributos, tem agora, necessariamente, a obrigação de adotar padrões eficientes em relação ao meio ambiente, além de buscar ou participar do desenvolvimento social do seu entorno, principalmente. A empresa apartada desse novo paradigma certamente não será bem-vista pela sociedade e encontrará, cada vez mais, inúmeras barreiras, e até mesmo de ordem econômica, podendo deixar de exportar produtos para países onde tal questão tem prioridade absoluta.

O Direito é fruto da sociedade e por ela e para ela existe e é desenvolvido. Todas as questões ambientais passam pelo Direito, a partir dos princípios constitucionais que foram eleitos em 1988, na Constituição Federal Brasileira. A questão do direito difuso, notadamente ligada ao meio ambiente sadio, para as presentes e futuras gerações – criou-se no Brasil espaço para considerarmos um terceiro gênero de direito –, está além do privado e do público. Assim, o meio ambiente, nem privado e nem público, constitui essa terceira forma de tutela do Direito, atingindo as gerações brasileiras: as presentes e aquelas ainda por vir. Todos nós, cidadãos brasileiros, somos instados a participar dessa obrigação de preservar o meio ambiente para as futuras gerações. O artigo 225 da Constituição Federal, no que concerne ao meio ambiente, determina que cabe ao “(...) Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Não é só o Governo, portanto, que deve fazer algo.

E o seguro ambiental brasileiro? Como anda o desempenho desse produto no mercado nacional?

Vejo com bons olhos os novos tempos. Há mais de 18 anos trato desse tema no nosso país, promovendo o pensamento contratual securitário sobre os riscos ambientais. Atualmente, os frutos começam a florescer. A Unibanco lançou produto consistente no final de 2004 e permaneceu sozinha até recentemente. A Mapfre e a HDI elaboraram produto específico para riscos rodoviários, com cobertura para danos ambientais. A ACE lançará oportunamente produto voltado para riscos ambientais. Também a Zurich e a Allianz, tudo indica. A Liberty anunciou recentemente no seu website corporativo a possibilidade de comercialização do mesmo produto. É um bom sinal. Facultativamente, o produto passa a ser objeto de atenção das seguradoras brasileiras.

O senhor é a favor da obrigatoriedade do seguro ambiental? Por quê?

Eu, por convicção, sou contrário à estipulação legal da obrigatoriedade do seguro ambiental. Tenho esse entendimento porque a imposição não funcionaria no Brasil, assim como não tem sido eficaz nos países que adotaram a mesma coerção legal. Não acredito na funcionalidade da imposição de seguros neste país, em qualquer segmento. Nós, os brasileiros, somos avessos a tais determinações.

Como o senhor avalia a participação e a contribuição do mercado de seguros e resseguros brasileiro no estudo das mudanças climáticas e seus impactos no segmento?

O mercado nacional precisa fazer muita coisa sobre o tema, começando pelo conhecimento científico do assunto. De fato e de concreto nada tem sido feito, e isso é assustador, pois que as mudanças climáticas não foram construídas pelos pessimistas, mas estão aí e podem ser sentidas e observadas por todos nós. Fico imaginando quanto o mercado segurador já paga de sinistros em razão das mudanças do clima, mas ainda sob outras rubricas de causas: vendaval, seca, alagamento, inundação.

Não há como ignorar o assunto, mas observo que esse comportamento tem sido constante no nosso mercado, infelizmente. A Fenseg criou um Grupo de Trabalho em 2008, e justamente para discutir o tema e detectar possíveis ações a serem empreendidas. Nos primeiros resultados alcançados pelo GT, ou seja, a partir do momento em que foram listados os temas, e mais ainda, as providências científicas que deveriam ser tomadas, nada avançou. Recursos financeiros? Ora, um mercado que arrecada bilhões certamente deve estar apto a despender alguns milhares de reais para comprar proteção via ferramentas científicas, as quais devem ser buscadas nos meios acadêmicos das universidades de ponta do nosso país e de mais outros centros de excelência como o INPE, por exemplo. Não há outro caminho a ser perseguido.

O que o seguro e o resseguro podem aprender com o meio ambiente?

Respeitar as regras naturais provenientes da própria natureza. Há ação e reação e todos aqueles outros princípios observados pelo homem. Retoricamente, podemos criar um texto longo, comparando as situações que são objeto dessa questão.

Fonte: Caderno de Seguros

Curso IFRS

Reportagem - Fim do Fator Previdenciário

Fim do fator previdenciário elevará em 20% gastos com benefícios, diz secretário

Ivan Richard
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O fim do fator previdenciário e a vinculação do reajuste dos benefícios previdenciários ao aumento do salário mínimo, ambos aprovados pelo Senado e em tramitação na Câmara dos Deputados, farão com que as despesas da Previdência Social venham a corresponder, em 2050, a 20% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo projeções do Ministério da Previdência.

De acordo com estudo divulgado pela Secretaria de Políticas de Previdência Social, as duas medidas, além da proposta que altera a forma de cálculo que dá origem às aposentadorias, não vão beneficiar os mais pobres e sim aqueles com as aposentadorias mais altas. “É um tiro no pé, em termos de distribuição de renda”, afirmou o secretário de Políticas de Previdência Social, Helmut Schwarzer.

Conforme o levantamento, se for considerado apenas o envelhecimento natural da população, o impacto dos gastos com a Previdência em relação ao PIB, hoje estimado em 7%, chegará a cerca de 11% em 2050. Schwarzer argumentou, durante reunião do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), que o fim do fator previdenciário, além de causar desequilíbrio fiscal das contas da Previdência, vai gerar um impacto “ruim” do ponto de vista da distribuição de renda.

“As pessoas que hoje conseguem aposentadoria por tempo de contribuição não são trabalhadores rurais, nem trabalhadores do setor informal ou domésticas. Não são as pessoas que têm maiores dificuldades de inserção no mercado de trabalho. Ao contrário. São pessoas que conseguem comprovar o tempo de contribuição formal. Portanto, tendem a não estar entre as pessoas mais pobres do país”, argumentou o secretário, rebatendo a tese do senador Paulo Paim (PT-RS), autor dos dois projeto de lei que extinguem o fator previdenciário e estendem os aumentos do salário mínimo para aposentados e pensionistas.

Para Schwarzer, uma das alternativas para recompor as perdas ocasionadas pelo fim do fator previdenciário seria o aumento de impostos ou do valor da alíquota previdenciária. “Temos que praticamente dobrar as alíquotas de contribuição para Previdência Social, a fim de podermos financiar somente uma das medidas que estão sendo discutidas [no Congresso]. Acredito que o país não quer um aumento da carga tributária dessa forma", disse o secretário.

Segundo Schwarzer, o público beneficiado com um eventual fim do fator previdenciário é pequeno. Correspondeu, no mês de março, a 6% do total de benefícios concedidos e a 15% das aposentadorias emitidas. O secretário explicou que esses percentuais têm participação significativa em termos de valores pagos pelo INSS: 10,3% nos benefícios concedidos e 28,5% dos emitidos.

Outro argumento utilizado pelos técnicos da Previdência para que a Câmara rejeite o fim do fator previdenciário é a arrecadação.. Desde a implementação do fator previdenciário, em 1999, foram arrecadados R$ 10,1 bilhões. A previsão para este ano é de que sejam economizados aproximadamente R$ 5 bilhões. Apesar da economia, Shwarzer avalia que a regra ainda é falha, pois não mudou consideravelmente a idade em que são concedidos as aposentadorias no país.

“O fator previdenciário teve um sucesso relativo. Ele não conseguiu fazer com que as idades das aposentadorias chegassem a 56, 57, 58 anos de idade ou mesmo 60, no caso dos homens, como era a idéia com a idade mínima. Ele conseguiu fazer a elevação de um ano, um ano e meio na média de idade na qual as pessoas se aposentam”, argumentou. Em 2007, a média de idade para aposentadorias por tempo de contribuição foi de 54,4, para os homens, e 53,33 para as mulheres.

O secretário de Seguridade Social da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap), Luiz Adalto da Silva, avalia que o fator previdenciário é uma regra injusta. “Achamos que deve ser extinto. É lógico que devemos buscar subsídios e discutir com o governo para mostrar outras maneiras pelas quais ele pode conceder a aposentadoria aos trabalhadores. Não é justo um cidadão trabalhar 35 anos e depois ser podado pelo fator previdenciário, que beneficia apenas o governo”, afirmou.

Para Luiz Adalto da Silva, é preciso haver transparência nos gastos previdenciários. “Há recursos com a própria arrecadação da Previdência. Deve haver transparência no fluxo de entrada de caixa, com todas as receitas, antes da DRU [Desvinculação de Recursos da União] e após a DRU, para que a população tenha bem claro tudo o que se passa na Previdência.”